Aos meus pais, avós e amigos.
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Dois Lobos - Uma Lua

Dois Lobos... Uma Lua! -


Dois Lobos uivavam na colina abismal

Uivavam profundamente, num cântico que se expandia pelo ar raro

Uivavam como se se ritualizassem, como se fossem um coro em harmonia

Uivavam apaixonados...!

Dois Lobos...

Dois destinos...

Duas naturezas selvagens e puras...

Dois olhares destemidos, vividos, que se amavam...!

Perseguiam a Lua no céu

Perseguiam os sonhos no mar

perseguiam cada vida no seu sonho

Sonhavam um com o outro como ideal!

Eram dois lobos...

Eram dois ausentes...

Eram dois espíritos idolatrados pela noite...

Eram animais divinos!

E na madrugada louca de solidão

Pelo bosque caçavam o seu alimento

corriam em liberdade livre pela imaginação

pela sua liberdade

animais possantes, amantes de um Luar de emoção!

Eram dois Lobos

que se amavam...

Dois entes que se queriam

mas que o destino não deixou unir!

Uma noite...

Enquanto caçavam...

A Loba caium numa armadilha do Homem...

Ficou presa...

Foi morta!!

O Lobo...

Embora salvo e são

Morria agora lento no seu coração...

Ia para o topo da colina...

e Uivava só, na solidão...

Chorava com mil rios de lágrimas...

Calava como se nunca antes tivesse Uivado!!

E aos poucos...

O Lobo foi enfraquecendo...

Sem a sua vida...

Sem a sua amante

Era um ser sem valor, sem amor,

Era um animal sem natureza brilhante...!

Deixou de comer...

Deixou de caçar!

Só lembrava o seu amor...

Só por ela poderia sonhar!!

Mas, agora sem a Loba...

O que seria dele!?

Agora sem liberdade...

Não mais poderia correr...!

Então, já cansado...

de viver e de morrer...

O Lobo correu para a colina numa noite de chuva...

Olhou o céu...

A Lua não estava lá...

Estava tapada por todas as nuvens que cobriam o céu...!

Estava escondida... mortificada...!

Então...

O Lobo, de rosto ténue e fracassado...

Olhou a alcateia que chorava o seu estado...

Como que se despedindo de todos,

Olhou com o seu lacrimejar alterado...!

Deu um último Uivo...

Estridente, músico, mórbido, cansado...

Olhou em volta...

Olhou para o céu onde a Lua deveria estar...!

Como nada a vida mais lhe dizia...

Porque numa noite perdera a sua maior alegria...

Decidiu pôr fim à sua vida...!

Queria reencontrar no céu a sua Loba querida...!

Queria voltar à Lua...!Descansar... sonhar!!

Então...!

Correu loucamente...

Correu ferozmente, nos seus últimos ares de vida...!

Correu e ao chegar junto da armadilha onde ficara a sua Loba...!

Disse...

- Do céu nós viemos

Feitos de pó sideral

Para o céu volto agora

Para junto de ti, junto do Luar...!

E,

Destruído por um amor intenso...

Que agora se via impossível pela morte

Chorando o que havia em si de lágrimas...

Atirou-se no precipicio da armadilha...!

Suicidara-se por amor...!!

Para o Lobo e a Loba tudo acabou...!

Ou talvez ainda agora tenha começado...!

Porque segundo o que proferia...

A morte é um caminho para outro qualquer lado!

E,...

De repente...

De repente tudo mudou ali...!

Perante um ganido aflito...!

A chuva parou...!

A alcateia gemeu em tristeza e saudade...!

O mundo do Lobo Uivou...!

Uivou com tanta energia e tanta tristeza...

Que a vibração das suas vozes estremeceram a realidade...

E por entre o som que os uivos provocavam

a chuva parou, o céu aclareou e surgiu um rasgo de luminosidade...!

E quando a alcateia olhou o céu...!

Um novo fôlego apareceu...!

As nuvens tinham partido como por milagre...!

Era a Lua, as estrelas que brilhavam de felicidade!!

O Lobo e a Loba agora unidos para sempre...

Faziam parte das estrelas e do Luar...

Eram agora sonho de toda a gente

Eram esta história para te contar...!

E num manto de brilho...

Um feitiço surgiu brilhante e dourado...

Entre os Uivos e os gritos...

Uma estrela cadente percorreu o céu estrelado...!

De norte a sul correu

olhando lá para baixo...

Eram o feitiço de dois Lobos e uma Lua...!

Era um desejo de um sonho concretizado...!

E para sempre a sua felicidade seria...

Apaixonados e amantes para sempre...!

Dois Lobos... uma Lua... a alegria...!!


Pedro Campos - Algures no tempo

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