Aos meus pais, avós e amigos.
A toda vida...
A toda a natureza..


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Tudo...



Agora, percebi
É tempo de deixar as lágrimas dielétricamente fechadas
Na sala isolada de existir...
Ali, naquele compartimento frio
Com lágrimas que escorrem pelas paredes nuas
Em que jazem quadros vazios de autor esquecido na imemória do mundo...

Agora, entendi...
É tempo de deixar as ondas do mar que nos une e separa
Para trás dos olhos e para trás das mãos e da alma...
É tempo de me abandonar... ali... na rotunda da noite
Olvidado na penumbra
Como um lenço esquecido, caído do bolso roto da solidão...

Agora, descubro...
Fui apenas mais um sonho que tive
Nas febris madrugadas em que ardente de fome
Moribundo de imensidão
Caí na chuva dançante do meu coração
E morri...

Morri...
Num enredo sem plano
Num plano sem medo
Onde o vento se toca com o dedo
E o dedo aponta para o vento...
Que, a pouco e pouco,
Se nos revela,
Como se revela um segredo...

Hoje, compreendo
Que por mais que te ame... e amo... tudo... acredita...
Jamais a sétima noite será diferente
De quase todas as sétimas noites que aconteceram...
Porque nos lugares cimeiros
Nos centros nervosos da decisão
Está sempre o mesmo medo
E em si,
A deliberaçao...

Por mais que considere prosseguir o meu fascínio
Por mais que as ondas desesperem no meu íntimo
Ou que as molduras em madeira apodreçam
Eu não sou já nada quando decidires
Porque entre ser tudo e ser nada...
Há pouco espaço de separação
A linha é ténue
O movimento é rápido
E a respiração...
Hum...! A respiração sucede-se a um ritmo incrível...
Quando nos amamos...
Ali...
Na areia molhada...
Pelo tempo que lhe trespassou os grãos
Em troca de uma mão cheia de silêncio...
Que no fundo...grita por ti no meu coração...

Hoje... vislumbro aquilo que fui
Aquilo que fomos
Aquilo que somos
E aniquilo-me quando oiço palavras negando outras palavras que já ouvi
Aniquilo-me... quando me sinto... perder-me... perder-te...
Ali... naquele labirinto...
Perto do fim...

Ali, naquela sala nula
Onde tudo o que queria era ser perpétuo
Mudo perpétuo
Surdo perpétuo
Ignorante perpétuo...

Queria... ali... não querendo...
Deixar-me de sonhos e de vontades
Abandonar-me à posse da desumanidade
E suicidar-me na dimensão insensível da verdade

Mas... enganar-me-ia somente...
Porque a verdade... diz-me outra coisa...

A verdade diz-me exactamente o contrário
A verdade... conta-me os segredos das almas dos homens
Aquilo de que sentem medo
Aquilo de que morrem..

De que é feita a argila das paredes desse labirinto
Onde as almas se cansam e se sucedem no caminho
Que precede o espaço mais amplo
Do fim, do destino...

Na verdade, o que a verdade me diz...
É que por mais salas trancadas e isoladas que procure, apesar de não procurá-las
Tudo e nada serás sempre tu
Haja tempestade ou sol ardente
És tu a única verdade
Que a minha alma entende..

És a chuva
És o girassol
És todo o pensamento
E todo o olhar

És as pedras que caiem
Da montanha alpina
És a sombra que foge
Como um barco em bolina

És...o grito dado
O silêncio acontecido
És a neblina aclareada
És o choro emudecido

És a maré que me transcende
Na noite dos meus sonhos
És a água que me anula a sede
Quando tudo o que me espera é o deserto medonho

És a águia que agita as asas
Em movimentos de andorinha
És o arco-íris que acontece
Quando a chuva penetra a luz divina

És todos os verões e todos os invernos
As estações do ano
Chegadas sem tormento

És todo o meu sentido
E o sentir que abarca o meu todo
És a mão sumptuosamente febril
Que me acalma em consolo

És a flauta mágica e o piano silvestre
És a ceara florida
E o abismo agreste

És todas as velas
De todos os barcos
Todos os mundos
Em todos os palcos

És a rosa que nasce
No seio dos espinhos
És a esperança que acontece
Quando nasce um menino

És toda a incerteza
Transformada em alegria
És a minha certeza
Transmutada em alquimia

És tudo, absolutamente, numenamente tudo... tudo...
Tudo... em mim...

Deia da beleza
Magnética, deslumbrante
És o momento que alucina
És a singeleza cativante

És o cosmos sintetizado em ti
A natureza pura
És sublimação adidada em mim
Na eternidade da loucura
E cada dia mais perene
Na sumptuosidade lauta
Adormeço no teu corpo
Repouso na tua alma...

És tudo...
Univocidade do sentir... que sinto...
Porque é por ti
Só por ti
Que existo
E que me aconteço
Aqui
Ou em qualquer outro lugar...
É em ti que eu sou Eu
E em ti que renovo o meu acreditar..

Amo-te...
Eternamente...
A ti...
Mulher, menina..
Do nosso mar...!


Pedro Campos
Amo-te

Esvaziei-me


Lancei as cartas do sorriso
Lancei-me a mim na escuridão
E o teu silêncio alcançou-me
Ali...naquela noite cansada, na minha solidão...

Lancei no vento todas as minhas fés
E perdi-me nas portas já fechadas dos teus olhos
Perdi-me sem me saber encontrar
Perdi-me quando começava a voar

Eras o Sol e a Lua e de repente... esvaziei-me
Como a onda que chega e leva a areia que nos destrói o chão por debaixo dos pés
Eras tudo para mim e continuas a ser..
Mas fiquei sem ti...
E acabei por ficar sem mim também..

Esvaziei-me...
De tudo...
E o espaço deixado vago...
Foi ocupado por qualquer outra coisa estranha que desconheço o que é...
Talvez... seja o profundo lamento...
Ou a dor cansada...
Talvez seja a mágoa por todas as conversas não faladas
Talvez...
Seja eu próprio...
Ocupando-me...dolorosamente...
Sem me reconhecer...
Dentro de mim...

Esvaziei-me...
Sem ti...


Pedro Campos