Aos meus pais, avós e amigos.
A toda vida...
A toda a natureza..


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Onde estou...?

Onde estou?...


Na mesa o lápis perdido
E a borracha esconde-se perto da tua mão
E há um areal extenso
Onde adormeces tranquila
E um balão de ar quente
Que levita sobre o chão
De onde vês a tua vida toda
Compilada num instante...!

E saboreias o doce amargo sabor
De rituais de encantamento e poesia
Que ali... frente à porta escancarada do vazio
Eu... penetro... no intenso universo
Do Inverno que acontece...

Um sofá antigo
As nuvens cinzentas...
O ar húmido...
Um lírio lilás
As flores que um dia colhi... para ti...
Fossilizadas nas lembranças do amanhã...
E...

E... as profundas palavras
Colossais momentos
Indizíveis na sua nudez mais profunda...
Estilizadas numa tela a rubi
Grito surdo... explosão calada
É o verso de uma morte anunciada
Que crepita no ilusionismo
De afinal não estarmos aqui...

Onde estás...?
Onde estou...?
Serás tu... o semi-arco aberto de um arco-íris proibido...?
Serás tu... o oceano mareante... navegante... o absinto incerto, invisível no imediato segundo posterior ao sonho...?
Serás tu... aquela ferida, lacinante... que dói... cada vez... que choras...?
Serei eu... o inexistente...?
Onde estou...? Onde estou....??
Será que estou....?
Será que eu sou alguma coisa...?
Será que existo....?

Hoje... estaria capaz....
De olhando tudo aqui... e tudo ali...
Dizer que não me vejo... nem localizo
Como se num instante fosse miragem
A miragem de mim próprio em si
E no instante seguinte...
Nunca tivesse existido...

Talvez... nunca tenha realmente existido...
Talvez... sim...
Talvez... não...
Talvez... me pergunte simplesmente....
Num questionamento suave e puro...
Ondulante e divagante...
- Onde estou...?

No chão...



Diluí o verso eloquente da ternura
E nas mãos ficaram as gotas de tinta
As gotas de água, as lágrimas que sobraram
Do saco de lágrimas que chorei
E me choraram...

Dissipei as nuvens tempestuosas em surdina
E as árvores agitaram densos ramos na neblina
E nos dedos, e nas unhas, e no corpo todo...
Adormeceram as fagulhas de um fogo ardente que cessou
Além do sonho...

Às vezes num instante de reflexão
Pergunto-me, indago as minhas dúvidas ao infinito
Será que somos nós que choramos
Que carpimos dolentemente a dor sentida em vão
Ou seremos somente, apenas nós
As lágrimas choradas... que jazem como lagos... no chão...?

O Eu ninguém



O vento ouve por mim
Aquilo que a noite fala
Aquilo que a noite diz

O vento... estremece aqui
Quando a lágrima cai
E o futuro nunca está
Onde está o sentir

Leva-me...
Leva-me para lá das colinas de neve leve

Leva-me...
Leva-me para lá do nível alegre e breve da cintilância
E aí... talvez.. a fragrância... talvez o corpo... talvez.. o tempo...
Sejam outros...
E Eu seja... aí.. talvez... um outro Eu...
Um outro estar... um outro sentir... um outro amar.. um outro correr...
E o vento na face... e a face no riso... tocando-me e agitando-me...
Antes de partir...
E Eu seja...
E Eu fosse...
Talvez...aí... o Eu ninguém
Que dorme e desperta
No amanhã...agora!

O Relevo do Pensamento



Abrir a minha alma
Deixar que as palavras tomem o seu lugar
E junto da rocha oceânica
Sentir o nosso mar falar

Há talvez
Uma forma diferente de crescer
Olhos feitos sonhos
Braços feitos vento
E tempos inconstantes
Na reverberância do não ser

Há talvez escondida
Debaixo da pele
Uma raiva secreta de existir
Uma revolta constante de mudar
De acreditar sem ser crente
De duvidar sem estar aqui
E um grito... por dar...
Um gesto por... haver...
Uma dor por questionar...
Um rosto ... por acontecer...

Há talvez escondido
No trémulo gosto dos temperos
Sabores que não sabemos
Palavras que não dizemos
Instantes que não vivemos
E mundos... que abandonamos...
Quando essa dor... essa raiva... esse desespero...
Nos fazem... mais....
Mais...
Eloquentemente mais....cansados...
Incrivelmente... menos... vivos...
E mais... mais... apaixonados... por um céu estrelado... no extenso areal...
E os pinheiros ao alto...
Os sussurros dançando no ar...
Segredos feitos de cores
E odores.. odes de amantes...
Divagantes, colossais...
Estrelas de cetim...
E pétalas descendentes... na harmonia das pétalas que murmuram
Na antecâmara... da verdade...
O chão foge-me...
O céu implode...
E o instante não tem preço...
Tu entras...
Tu sais...
Eu expludo em nós...
E os nós desfazem-se...aqui...!

Sem nós... a vida aparta-se...
E a tela viva de relevos indeterminados...ausenta-se..
E os seios da Deusa da vida.. circulares...Lua cheia...
E as paredes brancas... e as molduras suaves... da noite calada...
Desmaiam... quebram-se os sinos da torre de vidro...
E nos olhos dos Homens...
Uma falta de brilho sem expressão...
Olhos que olham sem olhar
E olhares que olham... sem lugar...
Olhos que morrem... na retina da solidão
Brilhos que escorrem.... e não voltam...
Aos brilhos que tinham... aos olhos que eram...
Os olhos de quem sonhou...a liberdade...!

E o avião vibra, o motor do carro precipita a velocidade...
O farol intenso... clama de infinito... no horizonte...
E a maquinaria do coração... deslumbra de vapor...
A loucura tumultuosa...
Com que os braços pouco mecânicos... estremecem...
E as cartas... de todos os silêncios...
Espelham num espectro de coisa vazia
A sorte... o azar... o caos na sua face definida...
E o débito de presente... germina já... nos bancos da escola...
Somos dúvidas, dívidas...
Somos o que não ficou...
Dos seres que não somos...
Espíritos empenhados em praça pública...
Com os pescoços presos... e os corpos suspensos...
Num Pelourinho... de justiças injustas...
De uma montanha... que recuou...
Ao longo.. da planície...!

Criámos Deus... para que ele nos comandasse... nos criasse...
Mas esquecemo-nos que criando... somos nós o Deus de Deus...
Somos nós quem deverá responder... com milagres
A um Deus... que nos deverá ofertar as suas preces e rezas...
E rituais, e dogmas e.. fés irrelevantes..

De facto...
Abri a minha alma
Deixei que as palavras tomassem o seu lugar
E junto da pedra angular
Senti o meu mar falar

Há talvez
Uma forma colorida de adormecer
Nuvens feitas ondas
Pássaros imóveis no voar
Amores secretos, ocultos, repletos de cumplicidade...
E vultos inundados... de recordações e de fado...
Entes inquietos... tão quietos... estranhos... fundos...
Que me falam...
E esses olhos... indizíveis... imensuráveis...
Leves, loucos... unguento distante... momento...
Estranhamente... estranho o encanto...
E o mármore da dor regressa...
Às grutas invisíveis que não conheço...
De uma existência...
De um espelho de água...
Onde me embebedo de ontens e de amanhãs... de sempres... e de nuncas...
Que serão... flor, floresta, calor, chuva, mistério, tabú...
Amarra-me o tempo ao tempo
E o Éden... esvai-se... pelas gotas cristalinas
Do teu beijo...!

E morro..
A baía de declives já aconteceu
A música tonificava os electrões da atmosfera
E o fim chegou...
E eu morri...
Talvez.. aqui...
Ou em todo o lugar...
Sem nunca morrer...
Porque ficou parte da paisagem.. do relevo...
O meu pensamento...

Ficou...
De relevo de mim...
O Relevo do Pensamento...
O Princípio...
... e o Fim...!

Sou um pássaro



Sabes,
Sou um pássaro...!

Só hoje descobri
Por entre as arcadas do monumento alado em tua honra
Quando esticava os braços que eram asas à sombra
Olhei de relance para um espelho fixo
No outro lado da rua
E vi um corpo de pássaro...
Uma memória de pássaro...
Um levitar... de pássaro
Que não se escondia... nem calava...
Vi uma alma de pássaro...
Que não fugia nem se camuflava..
No denso arvoredo que ainda haveria de existir
Junto ao lago sagrado do artista genuíno...
Que compõe melodias feitas de si próprio
E se transforma... em breves instantes...
Em instantes de si mesmo...
Nos pedaços da obra que inventa...
Da escultura que molda...
Do poema que escreve
É ele a sua métrica... a sua regra... a sua forma... o seu sentido...
De sonhador...
De apaixonado...
De amante...
- E crepita... luz...!
Crepita...! Cintila firmamento suave...! Eu espero por ti... pela tua voz...!
Espero... pelo teu sabor sumptuoso... febril... quente...
Pelo teu silvo ardente...
Essa melodia divinamente harmoniosa
Que estipula... todos os limites do céu...
Aqui...
Ali...
No infinito...
Por dentro do vácuo ermo e sorridente
Desse lampejo de liberdade... que é voar...
Assim...
Com as asas... abanando...
Porque... sabes...?

Sabes... meu bom amigo...??
Hoje descobri...
Sou um pássaro...!

Sabes,
Sou um pássaro..!

Vale do nada



Sigo,
Uma rota de labareda
Um colibri de todas as cores
Pousa à minha frente, na janela
Eu olho para ele...
Ele olha para mim...
Tantas coisas dizemos naquele segundo de cumplicidade perfeita..
E reinventamos o amor..
Desenhado de fantasia...
Reinventámos a medida com que se contam os segundos
Recriámos a fórmula etérea da energia
Destituídos e nús... já sem tempo...
Fomos vento e sol...
Naquele momento..

Como pode um segundo ser tão vasto...? Ser tão... intenso...?
Como... pode um verso ser tão.... ser tão distante...?
E a pergunta ser tão.... ser tão pergunta...!?
E.. quando fecho os olhos...
No escuro das pálpebras...
Quebro os cadeados que mantêm... as almas fechadas... e os olhos fechados... e os sonhos encarcerados... na cegueira de não ser-se nada...
Serei o único a pensar sobre a forma de me questionar no mundo...?
Serei tão inútil assim... que pensar... é a última coisa que me resta fazer...?
Mas... encantam-me... os voos explêndidos dos vizinhos pássaros
O brotar colorido... dos botões das flores, das suas pétalas.. iluminando...
Iluminando... o verde clorófilo das ramagens das plantas... e a relva... e as árvores...
E um fundo azul celeste... por detrás...
E em baixo... lá em baixo...
Num vale glaciar...
Corre um rio de águas transparentes..
Lá... não há mentira...
Lá... não há tristeza... nem reflexão profunda... nem pensamentos... nem memórias...
Nem lucidez.... nem loucura...!

Lá... só há essa simplicidade bela...
De não haver nada...
De só haver... nada
E esse nada... desabrocha... e viaja...
Pelo nó inverso e imenso... dos teus dedos
Provando a corrente que passa....

Nesse vale... do nada...

O Poema dos Gestos

Existem gestos que gesticulam
O que não se diz
Gestos para o dia
Gestos para a noite
Gestos para cada momento
Que não se vêem, nem se ouvem...

E o teu gesto
O gesto deles, delas, de toda a gente
São feitos de linhas cruzadas
Como nuvens sobrepostas
Numa tela de muitos ontens

E fechou-se o portão
Que o poema dos gestos entreabria,
Anoitece aqui.. numa noite de todas as noites
E a sorte... de sortes distintas...
Entre os alpes da fantasia dos actos
Que num tornado de eloquência
Se dispersa... por coisas que não vês
E adormece... nos lençóis... que não és...
A pele... e a flor... à flor da pele...
Hesita a demora...
Ordena-se a forma do amor...
E os conceitos que conheces...
Findam... no espelho sem cor
Que a harmonia do calor.. no teu corpo
Abre essas aveludadas asas e sobe no horizonte...
Para a forma inevitável de magia...
No topo.,
Num alcance...
Um poema... dos gestos
Aqui...
Quando os gestos...
Gesticulam...

Por entre a Chuva .. a Incerteza...


Por entre a chuva... a incerteza...

De chapéu de chuva aberto
E um céu cinzento no alto
Os pássaros parados nas árvores
No ar... só os murmúrios do vento...
No ar... só um pouco de nada...
Um pouco ... de tudo...!

Ali..
No meio do labirinto
O que passou me habitava
E o que ficou no amanhã que será... talvez um ontem...
O presente que viajava...

E o moinho que ia criando a incerteza

Criaturas suspensas nas hélices, nas pás em rotação...
E um trevo feito de musgo..
Numa parede feita de tempo...
Numa montanha feita de fogo...
Era a pedra angular do existir... atirada ao vento...
E o teu pensamento pensava-se, pesava-se dentro de mim
O teu mundo em esfera... azul...
Rodopiava num instante sem fim
E os gestos
Leves, esvoaçantes... verticais...
Ocultavam-se...
No horizonte que... umbralmente... ia escurecendo...

E eu...
O Eu... era um hoje que permanecerá... nesta carne...
E a incerteza... era um agora...
Que restará... depois do sofrimento....

E a música...
Colhida, temperada, encostada à enseada dos momentos
Deslumbrava no olhar dos sonhos
Os pardais de mil cores que dançavam agitando as asas
Em cima de um ramo verde...
Com uma varanda de onde se via...
Não o fora... mas o dentro das coisas...!

E..

Lá ao fundo,
No campo aberto até onde a vista alcança
Olhava as encostas recortando os limites
Definindo fronteiras de céu e terra
Fugindo para o imenso... para o incerto...

E..
A minha vontade era...
Era... definitivamente... com toda a certeza...
Que não houvesse incerteza...
No espaço de silêncios entre a canção das tuas palavras
E o acorde pungente da memória...
E que bastasse um instante... um abraço... bastasse um peito confiante
E bastasse... um pequeno grande passo...
Um pequeno... grande salto... de coragem...
E seria a incerteza... com toda a certeza...
Dispersa... pelos grãos de areia do mundo...
E o seu efeito.... diminuído... destruído...
E o seu sabor... insabor...
E todo o ali...
E todo o lugar...
E todo o agora...
Seria paisagem ao luar
Um braço unido de terra a entrar no mar
Uma onda esverdeada de algas e medusas violeta...
E os dedos tocando de mansinho...
O mais profundo... e terno infinito do teu peito...
E ali... denso... etérico... planante... fundo... flamejante...
Com os cabelos sob o efeito luminoso do firmamento...
Entenderias nas formas das constelações...
Projectos, planos estratégicos... intuições...
De um universo inteiro conjugando esforços e emoções
Pelos sonhos...pelas verdades... por nós dois...
O âmago das coisas fosse outro, talvez um dia...
E esses gestos, então permitidos pelo mundo
E esses tempos... mais definidos.. no presente do que no futuro...
E essa tinta... essa película...
De incertezas e incensos...
Seria de outra cor...
De outro cheiro...
De outra vontade...
Se essa tinta de incerteza...
Desaparecesse... desse céu cinzento...
Ali no meio da tarde...
As nuvens voando
Os pássaros saudando a liberdade
E um salgueiro ermita na caverna da saudade...
E... os vidros do carro... bacilento... dormindo...
Salpicados de gotas de coisa alguma...
Que desse espectro ali... caía... nas planíceis do desespero...
No meio de uma tempestade vã..
Que uma vez mais, sem saber porquê
Teimava em falar a linguagem louca da incerteza
E estava chover aqui...

Estava a ouvir-se aqui...
O calado inaudível do poente...

Essa...já.. hábil mistura de cores...
Partitura humana...
Poema impossível...
De um crepúsculo a acontecer
E no invernoso estar...
Eu partia...
Com meu guarda chuva.. e o amor todo dentro de mim...
Por entre a chuva...
Partia... para um outro lugar....

Um lugar
De outros lugares...

Observar... observado...


Difundida a luz
O candeeiro cambaleava no tecto
Como se um fantasma o agitasse
Ali na noite, no relento
O teu silêncio era pedra
E os meus dedos magoavam-se
Ao tocarem o chão frio da ausência
Estremecida num manto de penumbra
E a saudade rebentava
Num passo de ave
Um jacto de avião
O céu visto do infinito
Ignorando que o infinito era o céu
E o rio corria
As pétalas das papoilas junto à margem
Bebiam da água fresca
E a erva verde...
Escondia o amor de dois escaravelhos
Que por mero acaso
Se passeavam por ali
Divagando num perfil de filósofos
Pensadores
De mãos no queixo
E olhar deslumbrado para o sorriso do sol
Pareciam pensando o mundo
Serem ignotos da observância
Que o outro sujeito
Que era eu
Os observava também
Pensando...

Talvez...
Algures...
Algum ser que desconheço
Naquele momento
Me observasse também
Num jardim qualquer que não sei qual é
Aprofundado na profundidade
De olhar os escaravelhos
Vivendo...
No seu habitat...
Secreto... (julgavam eles)

Observar... observado...

Estou...




Estou...
Apaixonadamente viajante
Entre a tremura do desejo
E o absurdo de passar horas a contemplar o nada...

Sou talvez a sombra vadia do que sou
O susto aflito
De quem me habitou...
E o amar crente... por um olhar diferente...
Que és tu... Tu..!

Sinto o mar que me agita e serena
Vagas doces que me embalam
Num balançar de encantamento e fascinação
Ternos e impossíveis gestos
Inventados por nós...
Nas terras longínquas... do infinito...

E no recanto daquela rocha
Bem perto da areia acastanhada
Despi-te no silêncio
No absoluto silêncio cantado
De uma liberdade feita madrugada
E amei-te...
Senti-me... completo...
Uno... em paz... no perfeito sentido do universo...

E ouvi... longemente de perto
O som que...o vento trouxera, decerto
O canto murmurado das gaivotas
Silvos que ecoando num deserto das coisas
Se expandiram com vontade...
Pelo corredor aberto
Que o teu coração perfeito
E o teu sabor rosáceo, cristalino... infindável...de sabor
Entreabriu... ao virar do monte dividido...
Esse monte dividido...
Que é a profunda gruta que a eternidade teceu
Nós de um destino vociferado ao relento
E o gesto ténue do abraço...
No determinante momento...

Agora...
Com o queixo apoiado...
No nó das minhas mãos cruzadas
Procuro no mapa do existir
A rota distinta que directa
Me leve a ti...

Agora...
Com um lago de poesia debaixo de mim
Oiço os passos amplamente apertados
De cem mil cordas de viola que explodem de frenesim
Talvez... da festa.. de gostar...

Talvez seja a força de te amar
Que por querer-te tanto, querer-te mais... que mais...
Faz das coisas simples... milagres musicais...
E do acaso inconcreto...
Um sentido bem mais certo
Que de alma nua... chama por ti...
Uma incerteza certa e convicta
De que és tu...
O jardim idílico dos poetas...!

E salto, disparo-me nas muralhas deste acreditar...
Sou feitiço sem feiticeiro
Sou ver sem olhar...
Sou o rio de água lenta e transparente
Que... pressente, no presente, o eloquente... de sonhar...
Que há em ti
O emanente profundo de sentir
Que se exala do teu ser... como se fosses Sol
E essa delicadeza de bailarina de cetim
Que me entrepõe o eterno
E o confirma como real...
Simplesmente... existindo ali...
Ali...

Ali
Continuo à tua espera...
Ali...

Diluído



Diluído



Dedos que vibram
Noites que sucedem o vento
E o latejar enorme, gigante
Do lacrimejar de saudade ardente
Querer-te aqui!
Amar-te a ti
E um sentir diluído no sopro
De calafrios que acontecem
De gritos e beijos que se inventam
Na tremura do desejo
Cascata trémula do fim
Uma casa de portas abertas
E entradas fechadas
Um rosto de olhos brilhantes
E palavras silenciadas
Um céu azul profundo
Mas nem uma réstea de esperança no mundo
Sem-abrigos que adormecem a um canto da cidade
E os cabelos longos, soltos, presos...
Sem vontade...
E a saudade...
A saudade na cintilância do instante
Ganha forma... na sombra da lua
E torna-se fogo... na chama acesa do fogacho de sonhos
Que acontecem ainda
Suspensos no trapézio do peito
Um grito mudo que se ouviu
Longe dali
E uma morte lenta
Oculta e escondida
Bem à frente dos olhos de toda a gente...
E quando me perguntavam: o que aconteceu...
Eu já não vos respondi...
Inerte e calado, o meu corpo abandonado
Era somente um corpo
Que estava ali...
Diluído... no fim...!