Aos meus pais, avós e amigos.
A toda vida...
A toda a natureza..


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Porquê...?


Porquê..?



Porquê...?
Porquê as lágrimas?
Porquê a dor?
Porquê?

Porquê...?
Porquê o vento....?
Porquê as mudanças do tempo..?
Porquê a ferida aberta no peito?
Porquê?... Porquê?..

É de noite e estou só...porquê?
Sou arrepio que queima... porquê?
Tu estás aí... longe...
E aqui... repete-se a ausência em mim...
O estar sem estar...
E saber-te... algures... longe...

E choro...
E dói...
Porquê...?
Porque é assim...?
Porquê?

Pergunto-me... na noite... sobre as perguntas que me invadem...
E preparo-me para dormir...
Esperando ainda algo vindo de ti...
Mas não veio nada...
E durmo...
Descanso...
Deito-me... na extensão arenosa do pensamento...
Enleado... numa música... envolvente...
E questionando-me... sobre... tudo isto...
Tudo isso...
Perguntando-me...
Assim...
Uma e outra vez...

Porquê...?



Pedro Campos

Acordo com o rumor do gelo


Acordo com o rumor do gelo


Acordo com o rumor do gelo
Um frio que me abana
Uma rotina que me agita
O despertador desapertando os nós da tranquilidade
E contigo... dentro do meu sonho
Pernoitando no abrigo secreto
Do meu peito quieto

Deixo as mãos mostrarem-me o caminho
E sigo em direcção ao sol
Numa estrada de alcatrão molhado
E pelo caminho árvores de sombras que se movem
E espíritos de sempre
Ali... vacilando entre o passado e o presente
Como se tivessem deixado
Alguma acção pendente

E olho-me no retrovisor
Vejo-me... mas não me vejo
Eu já não estou ali....

Talvez... tenha adormecido ao teu colo
Talvez... tenha ficado diluído nas teclas do piano de cauda do nosso jardim
Talvez... me tenha olvidado na penumbra do tempo
Talvez... me tenha esquecido lá atrás... de mim...

E assim... antecipo a chave que abrirá a fechadura irreverente da inspiração
E acumulo-me... em mim... como um lago desértico
Onde a aridez da visão obscura do mundo
Me rarefaz o agir e me torna transparência invisível de mim
E sou neutro...
Sou invisível...
Trespassável no rotundo circular movimentado do movimento articuladamente contínuo do universo
Sou despreocupadamente alternável
Numa engrenagem que me repele
Por não engrenar na sua medida

Por não me encaixar na sua estrutura

Por ser eu... parte de mim

A loucura...


A loucura...

Sou eu...aqui...



Pedro Campos

O Silêncio absurdo do Silêncio - I


O Silêncio absurdo do Silêncio ( Parte I)


Bebo o chá quente
Aqui neste sofá
Fecho por instantes os olhos
E sou metamorfose do silêncio...

Tenho a pele do silêncio...
E a voz do silêncio...
E os gestos parecem-se com os do silêncio...
E todo o som ecoa em mim
Numa acústica de silêncio
Como se o silêncio falante do meu silêncio
Fosse um verdadeiro som calado
Como o som genuíno e original do silêncio
Que omite até as nuances de silêncio...
Mesmo quando no mais profundo, surdo e tenebroso silêncio
Dou por mim... com um pouco mais de silêncio...
A quebrar o silêncio que havia antes
Na distinção indistinta de silêncios múltiplos dentro desse silêncio absurdo de silêncios
Cambiantes de som e ruído
Que se extravasam do que são e do que não são, do que poderiam ser...
Na oração paulatinamente indizível
Que inelutavelmente
Faz do silêncio
O ruído mais estrondoso e eloquente
Que as almas poderão produzir...

Um som sem som...
Uma mensagem sem voz...
Um querer sem palavras...
Uma melodia sem canção...
Um ouvir que não se ouve...
Um calar que tudo diz...
Uma imobilidade em que tudo se move
Uma monotonia em que tudo acontece...
Num silêncio como esse
Em que sem um único fone ou tom ou nota sonora
Expressamos tudo o que sentimos

Silêncio...
Contar... não contando...
Dizer... não dizendo
Mudar... não mudando...
Nesse silêncio absurdo do silêncio...
Em que somos tudo não sendo nada...
Em que os extremos desta dimensão se tocam...
No limiar de uma nano-eternidade
De uma não-liberdade...
De um não-pensar... pensando tudo...
Nesse silêncio absurdo...
De estar ao mesmo tempo a falar e a calar...

Porque o silêncio.... tem voz... e sentir... próprios
Estridente e imanente... à tua alma..
É a vontade escondida...
Sob a carapaça alada...
Pode ser doce...
Pode ser frio...
Pode ser fruto da mais profunda cumplicidade...
Ou demonstrar que ali há dor a transformar os instantes...
A modificar quem somos ou a esconder uma verdade...
Pode ser expressivo... sábio...
Ou ignorante... e vazio...
Pode ser... confortável...
Pode ser constrangedor...
Pode ser felicidade...
Pode ser dor...
Pode ser...
Pode... ser...


Pode ser... e
E... será sempre diferente...
Cada silêncio... diferente do seu semelhante...
E absurdamente indefinível...
Sem um modelo de semblante...!

E...
E...o teu silêncio...
O teu silêncio... é eloquente.. e expressivo...
Conheço os teus silêncios...
E o que a sua voz calada... às vezes quer dizer...
Umas vezes canta...
Outras vezes grita...
Mas... o teu silêncio...
Esse que é só teu...
É lilás... é diferente... é mágico...

É apaixonante... quando é teu...!

Teu...
O teu silêncio...
Na analogia ao silêncio absurdo do silêncio...

(Muito mais há a dizer e a retratar, a reflectir, a pensar e a sentir sobre os silêncios... mas o meu silêncio... neste momento... silencia... tudo o resto... que dizendo... em silêncio... me faz calar o que digo... o que disse.. desde que a minha voz se calou... neste silêncio absurdo do silêncio... que conto sem contar...)


Pedro Campos

Casa do sentir


A Casa do Sentir

Planície aberta
Campo verdejante de erva
E a aveia do tempo
Dispersa sobre os meus pés
Levitando eu
Sobre a noite
Desse campo longo
Longínquo
Distante
Em que acenos de sonho
Murmuram os passos que damos
No rumo da vida

Somos sementes de ontens
Amanhãs que nunca foram
Hoje's que nunca serão
Tempos sem tempos
Tempos sem distâncias
Contagens de instantes em aglutinação...
Nesta miragem proximal
De planície vazia
Em que se confundem fantasmas com poesia
Onde ecoam os mitos do sempre
E habitam as cores do nunca
E onde eu...
Onde eu sou a voz
Daquilo que nunca fui
Incessantemente
Um respirar fundo
Nas asas de uma borboleta
O acreditar imenso
No sentir do olhar
Olhar, olhar-te, olhando-te...
Ser a semente
E a folha da flor
O pólen agreste que inunda de vida e força
A germinação do mundo
Perdido em desejo...
À luz luminosa da Lua nocturna
Da casa do sentir
Que somos...
Cada um de nós...
No secreto universo que nos acontece...
A casa do sentir...

E pergunto-me.... quem somos?
Somos nós... essa casa... de sentires... de sentir-te...
Porque somos do tamanho das coisas sem tamanho...
E na nossa dimensão... tu és magia plena...
Na expressão eloquente da eternidade...
És composição perfeita em sintonia com o infinito... do cosmos...
Tu...
A cada segundo...
A casa do meu sentir


Casa do sentir... sentir-te...

Pedro Campos

Aquela noite...


Naquela noite
O ar estava húmido e quente
Era quase verão
Era quase vento
Era quase outro mundo

Rodopiando dentro de nós
E o tempo era pouco para o viver e conhecer...

Naquela noite
Levámos os nossos sonhos para a areia
E nas ondas do mar
Lançámos os nossos beijos
À ternura quente do desejo
Que ardia em fogo intenso...
Ali... dentro e fora de nós...

Ao longe, só a lua e o firmamento alegre
Com luzes que piscavam ritmamente ao nosso som
Acompanhando o vibrar dos nossos corpos
Nos olhavam
Nos sabiam
Nos apoiavam... num silêncio de cumplicidade...

Ali, naquela noite tu e eu fomos um só
Sob o tecto escancarado da liberdade
Que nós os dois conhecemos...

Tu e eu fomos a eternidade...

Que a nossa boca pressentiu...

Aquela noite
Com a vela acesa e o areal feito mesa
Jantámos no silêncio do fim do dia
Com o por-do-sol a fazer-nos sorrir
E fomos ali...
Tudo...
Fomos ali... nós

Fomos ali... a própria a vida...


Amo-te...



Pedro Campos

Oiço...


Oiço a música que compus para ti
Alguns versos unidos pela harmonia das notas
Que expressam o sentir-te sublime
Da vida contigo

Talvez esses versos sejam profundamente mais intensos
Do que estes que te escrevo aqui
Mas talvez estas palavras de agora
Estejam desertas de cor
Por saudades de ti

E é por isso que quando te escrevo
Detecto sempre as linhas em falta para escrever
Poemas e sonhos doces
Imensidões eternas
Colossais sensações
Porque...
O que sinto... ultrapassa a dimensão possível e impossível das palavras
Mora no reino das emoções...
O paraíso aberto à esfera do infinito...
Sempre ali...
Para ti...
Meu amor...



Pedro Campos