Aos meus pais, avós e amigos.
A toda vida...
A toda a natureza..


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Aparição

Aparição - quando a noite caíu Letra de Pedro Campos

1
Quando a noite caíu
Ele não sabia que ainda estava aqui
A memória do que partiu
O resto da solidão

2
Quando a noite caíu
Ele não sabia onde estava o tempo
E ao correr pela noite descobriu
Que não há paraíso nem inferno
O mundo está aqui...

Refrão 1

Olhou o rosto do seu rosto no espelho
E uma sombra enfeitou-lhe o instante
Recordou todo o seu caminho, a sua rota...
Sentiu-se perdido, cansado, iludido...
Sentou-se e pensou para si mesmo...
Depois de tanto correr
Percebo... nunca tive um verdadeiro sentido por que viver...!

3
Ele pensava que seria diferente
Ser feliz sem lutar pela felicidade
E a amargura que jurou não sentir
Ensinou-lhe que não se deve jurar...!

4
Agora os dias passam devagar
Umbrais, frios, cadentes
Sentia a solidão morder-lhe a carne
O que tinha entre o corpo e a alma...
E então... chorou... e sorriu...
Correu para a janela...
E sem saber o que sentir...
Olhou o reflexo no vidro da janela...

Refrão 2

Olhou o rosto do seu rosto no espelho
E uma luz iluminou a sombra que lhe cobria o instante
Recordou todo o seu caminho, a sua rota...
Depois de sentir-se perdido, cansado, iludido...
Caminhou em frente... abriu os braços
E chorou comovido...
Depois de tanto correr
Percebeu que nunca tivera um rumo na vida...
As suas lágrimas escorreram-lhe pela face...
E caíram no chão...
E de braços abertos... caminhou para a janela aberta...
E... na aparição de si mesmo...
Abriu as asas do seu sorriso... e voou...

Agora... ele era livre...
No rumo de uma aparição...!

Pedro Campos

O que é feito de ti?

O que é feito de ti? - Letra de Pedro Campos
















1

Procuro a tua voz
Nas estrelas que brilham na noite
Do dia que fez esta noite
Na noite da noite
Do tempo que finda
Aqui

2

E quantas vezes
Penso que te estou a ouvir
Penso que te estou a olhar
Que te estou a beijar
Mas olho em redor e não te encontro...
Aqui

Ponte:

E por vezes escuto o silêncio
E por vezes vasculho as flores
Acordo e pergunto por ti...?
Dentro de mim...

Refrão:

O que é feito dos teus sonhos
Das lembranças que deixaste
Das conversas sobre o mundo
Tudo aquilo
Em que um dia acreditaste...?

O que é feito de ti?
O que é feito de ti?

3

E o silêncio faz-se de novo...
Quando fecho os olhos para te recordar...
É como se o mundo se fechasse nas imagens que retenho de ti...
E na noite... os lençóis que conheceram o teu corpo...
Perguntam-me... sussurrando...
- O que é feito de ti?

Repetir ponte
Repetir refrão



Pedro Campos - algures...


Apetece-me ver o mar

Apetece-me ver o mar - Letra de Pedro Campos


Apetece-me ver o mar
Fixar nas ondas o meu olhar
E longe da confusão
Pegar na tua mão e dançar..!


Apetece-me sonhar
Fechar os olhos e adormecer
Ao teu colo sem acordar
E distante do amanhecer findar todo o meu tempo em ti
E por fim... desaparecer... simplesmente...!


Apetece-me cheirar a vida
Saborear o tempo no teu rosto...
Sentir o teu sabor na tua língua...
Apaixonar-me sem remorsos...


Apetece-me abraçar o teu semblante
Absorver o teu gosto
Trocar palavras num dialecto distante
Ouvindo a tua voz criar um mundo novo...


Apetece-me ver o mar
Fixar nas ondas o meu olhar
E longe da confusão
Pegar na tua mão e dançar...!


Apetece-me sonhar
Fechar os olhos e adormecer
Ao teu colo sem acordar
E distante do amanhecer
Enfim desaparecer...

Desejo que a vida renasça no seu Ser..
Desejo poder sorrir...
Que todo o meu mundo se apague...!!!

Que todo o meu mundo se apague..
Para que de novo possa viver...
Não mais sentindo vontade de partir, ou de morrer...!


Porque apenas me apetece ver o mar...
Olhar aquelas ondas que invadiram o areal do pensamento...
Deixando-me sentir o frio da água, gélida e salgada...
O doce do sal que queima a minha boca
Em ternuras de almas sem fim...


E vendo no reflexo do mar
Toda a luz que do objecto redondo, circular, luminoso no céu a brilhar...
Uma lua que me deixe, que me deixe ainda amar...!


Toda a luz, dessa lua no fim daquela tarde...
Em que sentado a pensar
Apenas queria sentir o mar...!


Apetece-me ver o mar...
Fixar as ondas no meu olhar...
Ver o mar...
O mar... reflectido...
No teu olhar...
No teu olhar...!


Pedro Campos - Algures

Eterno Momento

Eterno Momento - Letra de Música - Pedro Campos


1

Bebes o tempo quente
Bebes mais um bafo de vida
Sentes que foste eterna
E que o tempo não é suicida


2

Corres por entre as canas
De um canavial perdido no céu
E lembras com saudade
Essa idade em que tudo era teu


3

Essa idade em que tudo
Era possível de alcançar
Essa idade em que um gesto
Era o suficiente para amar
E sonhavas, amavas, corrias sem ter medo
E querias, desejavas para ti, um eterno momento...


Refrão:

Eterno momento, em que a dor parte
Eterno momento, esse em que o instante não é verdade
Eterno momento, flores que desabrocham
Eterno momento e o sonho não tem fim...!


4

Agora acordaste para vida
E o arco-íris no céu
Diz-te como deves procurar ser feliz
Com a liberdade de sonhar e sorrir
Com a vontade genuína de existir
Porque
Eterno momento
É o poema que tens escrito
Dentro de ti...!


Pedro Campos - Algures

Éramos dois

Éramos dois


Éramos dois
Unidos na dança trapezista dos sentidos
Abraçados no recanto da sala...
Onde a luz já não chegava...
Numa trama de ilusões... de gestos... de rostos...
Unidos em nós
E esquecidos dos outros...

Éramos dois
Perdidos na incerteza do que éramos...
Na natureza do que éramos...

Éramos dois
Dois corpos sentidos... entre as tulipas de um jardim de inverno...
Entre o fascínio de uma melodia suave... e terna... e meiga... e envolvente...
No fim de uma noite...
Ou no alvorecer de um dia...
Éramos a chama ardente...
Tapada na vela do silêncio...
Éramos a coberta de jasmim...
Num patamar de ausência...
Éramos nós...
Enquanto sonhávamos...
Dormindo...!

Éramos dois...
E assim ficámos...
Entre os sonhos partilhados...
E os poemas dispersos...
Os pensamentos rarefeitos nos olhares...
Os papéis abandonados no chão...
E as cartas rasgadas... numa saudade... do presente...
De tudo...

Éramos dois...
Sonhadores de nós mesmos...
Antes do alvorecer da manhã...

Antes de acordarmos do sonho...
Éramos dois...

Sim...
Éramos...


Pedro Campos - algures...

Fechei os olhos....

Fechei os olhos...


Fechei os olhos
Para não te ver...

Fechei os olhos
Para não te olhar...

Fechei os olhos...
Para...
Olhando-te
Não me diluir na vontade de te olhar

Fechei os olhos...
Para não chorar...
Para não sorrir... não correr nas calhas da verdade...
Dessa verdade que flui... como um rio...
Dentro de mim...

Mas é tão imensa essa vontade...
É tão forte e abrupta... essa saudade...
Quanto a rebeldia nostálgica de uma onda do mar...
Selvagem... arrebatadora...
Incontornável...!

É indomável essa vontade...
E... acabo por ceder... à vontade de te olhar...
A ti...
E olho...
Assim...
Como tu sabes...
Com este olhar que te abraça... sempre que pode...
Com este olhar... que me diz tudo... que te diz tudo... mas que tem medo de continuar a dizer...
Para evitar o prolongamento... do que não sei... do que desejo... mas não quero desejar...
Para evitar qualquer sofrimento... qualquer ferimento...
Correndo o risco... de estar também a evitar qualquer outra felicidade... parceira do sofrimento...

Mas...
Como a vida...
Estar vivo...
É um risco...
Acabo por... no risco...
Correr o risco, conhecendo o risco, de te olhar... só mais uma vez...
Talvez uma única vez...
Uma última vez...
Com o encanto... de ser sempre... como a primeira vez...
Com este olhar...
Que consegue ver o que está reflectido... no espelho da tua alma...
E que...
Se maravilha... assim... ao sonhar-te...
Ao contemplar-te...
Olhando-te...
Olhar-te...
Na manhã que há nos teus olhos...
Fazendo-me caminhar...
Pela estrada da tua alma...
Por onde vou...
E de onde regresso...
A sonhar...
A acreditar...
Naquilo que não sei... o que possa ser...
Na ausência...
No nada...
No tudo...

Mas... não...
Não quero pensar nisso...
Não posso pensar nisso...
E por isso...
Fecho os olhos...

Fechei os olhos...
Para não pensar...
Para não te olhar...!
Mesmo sabendo... que isso é como deixar de olhar a eternidade...
O paraíso...
Talvez o "Hoc Erat in Votis" de uma existência...!
Mas não.. sei...
Nunca saberei...
Apenas... adormeci...
e
Fechei os olhos...


Pedro Campos - Algures... um poema sem ser poema... numa estrutura completamente diferente... sem ser estruturado... sem ser nada... e talvez tudo...

Absorvi o sol

Absorvi o sol (do teu olhar, nas tuas mãos de anjo... do teu sorriso... de tudo em ti...)



Absorvi o sol...
Que me invadia o olhar...
Esses raios de sol... luminosos... eloquentes...
Que perpassaram o vidro duplo que nos separava do mundo lá fora...
Que nos apartavam...
Do mundo... dos outros...
E talvez... também de ninguém...!

E... ali...
Ali... algures...
Por instantes... num ápice...
Recebi.. no prazer subtil da incerteza... os raios de sol no meu olhar...
E...
Absorvi o sol do teu olhar...
Absorvi... o sol ingente... colossal... abismal...
Absorvi... em contemplação... o génio magnificiente do teu ser...
Essa luz no olhar.... reflectida no meu olhar.... quando ao olhar-te... olhando-te... me deliciei prazerosamente embriagado... com o sabor agridoce... da tua alma... do teu olhar...
Com a intensidade... fulgorante...
Com... a exuberância... reconfortante... do teu olhar...
Oh...! Essa exuberância e profusão da tua lua cheia... no meu olhar...
Hum...! A tua doçura... e a tua leveza insustentável de entusiasmo e vigor para com o universo...
Para comigo...
Para com tudo...
E no entanto...
Fiquei sem entender qual o rumo do vento...
Fiquei sem entender...
Sem entender-me...

Fiquei... assim... até que finalmente... entendi...!

... Entendi... que não entender...
Foi naquele momento... a forma mais simples de ter entendido tudo o que se poderia entender...
Sobre o rumo desse vento...

... Entendi... que... sou feliz... apenas admirando-te...
Sou feliz... na locura lúcida que me sustenta aqui...
Amando o instante... e o teu sorriso... e a tua cor... e a tua pele...
Nas tuas mãos... em ti...
O rumo desse vento...
Embalando o mundo... com ternura e devoção...
Nessas tuas mãos lindas...
De anjo...
Essas tuas mãos... só tuas....!... tão tuas...!
Com essas mãos... que em esplendor... e sedução... observo e sinto... e calo... e oiço e morro e vivo... e renasço... e luto... e perco... e desisto... e venço... e corro.... e volto a lutar...
... E aglutino-me em mim... aglutino-me em ti... num nós nunca real... e acordo... e adormeço... e surjo de novo...
... e anoiteço... e amanheço... e destruo-me... e reconstruo-me... e apaixono-me... e penso...
... e reflicto... e cresço... e medito... e aprendo... e imagino... e toco... e aplaudo... e assobio... e canto... e danço...
.... debruço-me na enseada de bruma coberta... e atiro-me no desconhecido... de cabeça para baixo... à espera do mar que me receba com ternura... lá em baixo... lá no fundo do fundo do mundo... ....
... onde haja... talvez uma cidade escondida... ou uma galáxia perdida...
Ali no fundo do mar... no fundo do teu olhar... nas tuas mãos... no teu sorriso.... em ti...
... No rumo desse vento...!


E abraço-te... e penso abraçar-te... mas não abraço...
E percorro as ondas do imensurável... do indomável...
Cogito sobre a vida... filosofo sobre tudo e nada... e fico na mesma... como antes... sem saber qual a descoberta significativa que fiz... ao pensar... reflectindo... filosofando sem fim... em mim... sem mim...! Em tudo.. sobre tudo.. no nada de uma nadificação consciente...!

E... sento-me...
E descanso...
E canso-me...
E abarco-me no meio do oceano...
... E navego... numa caravela quinhentista... sem bússola nem orientação...
... E num instante... num gesto... num momento lacónico...
Quase tomo conta da tua mão... quase... em quase tudo... debruço o meu silêncio... e quase... num quase quase... unimos as nossas mãos... os nossos gestos... e contos... e poemas... e instantes... e sentidos... mas não... não damos as mãos...
Não chegamos a dá-las verdadeiramente..!
Porque...
... no último ensejo... ambos evitamos que a união das mãos...
Se concretize...

Elas...
Tocam-se somente... de relance...
Por um lado...
Assegurando a manutenção do segredo... mantendo a amplitude do mistério e a candura do encanto...
... Impedindo que a magia se dissolva.... transformando-se num pouco mais de realidade...

Mas...
Sabe tão bem... apenas o toque... da pele... das mãos... e os olhos... e o sorriso... e tudo em ti...

... E...
Tudo se repete... ou parece repetir...
A poesia repete as ideias já quase gastas...
Mas.. talvez a renove...!

Porque...
Cada poema... é um novo poema... nunca acontecido... nunca lido... e tudo ganha uma nova dimensão...

... As ideias ganham um novo sabor... de deixam de parecer repetidas...


... E enlouqueço... e fico racional de novo... e sou lúcido... sou perene... na ausência de ser eterno... mas no desejo... de que tu o sejas...
... Eterna... febril... plácida... ardente... sincera... e ao mesmo tempo... omissa...!

... E eloquentemente... sento-me na delícia de sonhar... e como...!

Como.... saboreando... o vinho da eternidade... líquido... flutuante... alegre...! E bebo...!...

... Bebo... a ambrósia dourada... que deriva do céu... o algodão doce.. das nuvens cristalinas...!

...Assumo... num relance de sapateado... a fé que transforma uma ideia em impossível... mas a encara como... antítese... da dualidade possível e impossível...
... Essa mesma fé... que fez o homem acreditar que poderia voar... como as aves pelo céu azul...

... Essa mesma fé... que fez o homem sonhar em explorar o universo....

... A mesma fé... que faz os milagres acontecerem... nem que seja... numa outra realidade...

... Numa dimensão... de um mundo de sonhos...

.. Enquanto dormimos... sossegados... nos carris da imaginação fértil...


... E grito...
... E choro...
... E rio... rio tanto... que as estrelas se enchem de cor e de luz e de fogo...
E todos os cometas se unem no firmamento... a cantar... e a foguear... como se estivessem num festival de apresentação de fogos de artifício...!!!

... E percorro...

... Percorro...

A estrada intérmina da ilusão... e da realidade... e da irrealidade... e aceito...

Aceito... o absurdo incompreensível da impossibilidade de sentir o que sinto... no fascínio deslumbrante da tua essência...
Perante... a tua deslumbrância... esperança... de um sem fim de dimensões da beleza e do fascínio... a que me rendo... a pouco e pouco...

A que me rendo... como um historiador... se rende... a uma relíquia... a um tesouro..
Como um artista...
Se rende e se inunda e impregna de inspiração... na descontrução da realidade... construindo o sonhado... o fumado... no esboço... carvonejado... das coisas... no seu estado natural.. pleno... efusivo... eloquente no beijo...

Sim...
Perante... essa preciosidade...
À qual... sei... impossível chegar.... mas ...
Esse é o sentido único do meu espírito...
Ela.......

Ela...
É o sentido... único que as palavras poderão encontrar...
E o sentido único ... em que contando segundos... instantes escassos...
Caímos mil vezes... seguidas de abraços...
E a dança é divina... ela vive no ar...!!
Ela voa sem asas... e não quer aterrar...
... Ali... na pista errante... de um equilíbrio nómada... que muda de lugar...
... no mapa das delícias eternas...
... no itinerário da felicidade...
.... assim...
Na linha indistinta que separa o céu... da terra...
E ambos... do mar....

... E volto.. a despertar...
E volto a tentar andar...correndo... sem correr... e na ambiguidade da poesia....

Arrisco o salto....
Digo... o que não posso dizer....
Na poesia que fala por mim... por nós... e por ninguém... a falar
E retraio... o salto do salto... no horizonte... despidas as horas... e perdido o espaço...
Retraio o salto que sei...
Não poder saltar...!


E assim...
Não entendendo...
Entendo que é essa a forma mais simples de entender o possível e impossível que poderia ser entendido...
Sobre o rumo desse vento...
E sobre essas mãos de anjo...
Que em ti... e por serem tuas...
São tudo... para mim....
Para sempre...

Assim...
Entendo tudo...
E não entendo nada...
Digo tudo...
E não digo nada...
Enquanto...
Olhando esse sol no teu olhar...
Absorvia a chama...
Absorvia o fogo bravo que a noite e o dia desejavam ter em si...
Viajando..
Embarcando numa viagem sem destino... à procura do ignoto...
À procura também de mim...

Nesse teu olhar...
Castanho... brilhante... infinito...
Tão perfeito quanto a mais sumptuosa paisagem de veludo...
Na suavidade do paraíso...!
Tão unívoco quanto o bailado mais belo... mais harmonioso... mais sentido...
Tão extraordinário quanto... a mais fabulosa composição musical...
Esse teu olhar...
O espelho... do meu olhar... nesse teu olhar...
Quando... sem entender o rumo da história...
Entendi que amar-te assim... é decifrar o entendimento que flui em ti...
Esse entendimento que se constrói na força de um sonho...
Na partilha das almas...
No espaço mútuo da existência...
No rir...
No sonhar...
No crescer...
No falar...
No amar...
No querer...
No encantar...
No rumo desse vento...

Desse vento...
Que embalando o mundo...
Nas tuas mãos... de deusa...
De anjo...
Nas tuas mãos... eternas...
Quentes... suaves...
Donas de gestos únicos...
Irrepetíveis...

Assim...
Na linha indistinta entre o céu, a terra e o mar...
Que nos separa... não separando...

Assim...
O teu olhar... as tuas mãos... o teu sorriso... tudo...
A verdade excelsa que há em ti...!
Quando absorvo o sol...
Que és...
Tu..

Pedro Campos – algures no tempo...

O Menino do Piano

O Menino do Piano - Letra de Pedro Campos

1

Sentados junto do piano
Tocando as almas a sonhar
O menino do piano
Não conseguia parar de tocar

2

Investia e persistia no clamor das teclas
Como se crescesse dentro do piano
E ali ao lado... o seu sonho vivia...
Estilizada em magia com o encanto do som

Refrão 1:

Era assim
Sempre que ele olhava para ela
E o homem adulto que ele era
Transformava-se em criança pequena

No menino do piano
Que sempre a há-de amar
Como a uma musa encantada
Que o ensinoou a amar...

Ela... a sua doçura... na maresia da alma...


3

Os seus olhos ficavam parados
E quando se cruzavam, sentiam o brilho da imensidão do mar
O som do silêncio ecoando neles
Mostrava-lhes como é bom amar...

Refrão 2:

Era assim
Sempre que ele olhava para ela
E o homem que ele era
Transformava-se em criança pequena

No menino do piano
Que sempre a há-de amar
À sua estrela colorida
Ao seu porto de abrigo
À sua menina do mar...

4

Depois... ouviram as palavras
Que as suas mãos tinha pra dizer
Aproximaram-se um do outro
Num silêncio que apenas eles conseguiam entender

(Repetir último Refrão e acaba com uma outra estrofe)

Hoje as suas palavras ternas
Perduram no som do vento
E sempre que há um piano a tocar
Ele lembra-se dela...
Porque ela... era a sua música singela
A sua luz na escuridão...
As asas reais da sua imaginação...!

Ela é o fascínio descoberto...
No coração do menino do piano...!


Pedro Campos - Algures... no tempo e espaço...

Nós

Nós - Letra de Pedro Campos

1

A estrada aberta
O céu azul no horizonte
Os pinheiros voltados para o céu
Lembram-me de ti

2

Um grito de liberdade
No esboço de um retrato antigo
E a saudade de um vento de ontem
Lembram-me de mim

Refrão:

Aqui, junto de nós
Desenlaçamos os nós
Que a vida nos obrigou a sentir

Aqui, junto do rio
Desapertamos os medos antigos
E num relance de infinito
Sabemos que é hora de partir


3

Agora, agora sem tempo
O vento volta aqui, os sonhos vivem de novo
No tempo do tempo sem fim
E corres... e gritas... num silêncio fechado... na noite calada... e a luz invisível reflecte... dentro de nós...
Na sombra de nós...
Na sombra da noite...


Pedro Campos

Cortinas da Ilusão

Cortinas da Ilusão - Letra de Pedro Campos


1ª estrofe

Desces as cortinas da tua sala
Enquanto corres os sabores de uma vida perdida
Ao ritmo de um pêndulo de joalharia nobre
Olhas o mundo por detrás das janelas transformadas
E assistes assombrada a um mundo que nunca tinhas olhado ou sequer entendido

Refrão

De olhos iluminados pelo reflexo da lua
Os olhos de um estranho entram pela tua porta
E no teu mundo, enclausurada, despertas meio embriagada
Percebes que tens de abrir os olhos
E desccer com os dedos do teu coração
As correntes que te prenderam
Às cortinas da ilusão

2ª estrofe

Entregas as mãos em silêncios rotundos no silêncio
E um ruído de mistério percorre cada gota do teu sangue ígneo
Pareces alienada por um vento de história e histeria
Aconteces-te abandonada, no tempo em que a tua vida te pertencia


Pedro Campos

Poema da Vida

Poema da Vida


Olha o horizonte
Olha esse caminho distante
Percebe entre a morte, a vida que cresce como erva num solo acolhedor...
Entende o sentir mais forte...
Um pulsar real...
Sente o verdadeiro amor...!

Sim...
Olha o horizonte e tudo o que por detrás dele existe...!
Talvez oliveiras ou pinheiros mansos...
Talvez palavras caídas de um céu de inverno,
Ou gestos doridos num redemoinho de vento...!

Sim...!
Olha e observa o teu mundo... por inteiro...
Esse que um dia já foi meu...!
Observa-o...
Entende-o....
Contempla os seus pequenos... imensos milagres...!
Assiste ao nascimento dos bezerros, ao desmamar instintivo dos cabritos,
À sucessão das estações do ano... ao ritmo da vida...
Aprende a orientar-te pelos sinais da natureza...
Pelo seu tempo...
Pelo seu espaço...
Aprende... a orientar-te pelas estrelas
Como se fossem faróis na noite, de um mar perdido no espaço...!

Aprende apenas a viver assim na natureza...
Aqui... neste ideal mágico..!

Aprende a amar cada folha, cada pétala, cada bicho
Aprende a encontrar no meio do quotidiano...
Os elementos da felicidade... da simplicidade... da alegria...
Aprende a ser apaixonado.... a amar os outros... a amar o mundo... a amar tudo...
E assim...
Aprenderás a amar-te a ti próprio,
Aprenderás a encontrar companhia...
Quando estiveres sozinho...
E perdido no mar...!

Aprende... contigo mesmo...
E torna-te o autor...
Do poema da tua vida...!


Pedro Campos - in Antologia Poética - Poemas de Pedro Campos na Internet

Uma Carta ao Silêncio...!

Uma Carta ao Silêncio..!


Escrito:
algures no decorrer da eternidade
Destinatário: Tu e o silêncio

Estou aqui... neste fim de dia... a pensar em ti...!
Estou aqui... apenas aqui... a sonhar acordado...! A ser feliz... como sou quase sempre...! Como noutra tarde qualquer...! Estou a escrever para ti... para o silêncio e para o céu... para o mundo...!

Hoje... não vou escrever nada que não tenha já sido ouvido por esse mundo fora, ao longo dos tempos... dos séculos... das décadas... dos minutos... ao longo dos instantes que passam e passam numa sucessão de etapas e cenas e peças e teatros em que nós vamos sendo os actores principais...!

Hoje... não vou escrever nada de novo, não vou inventar teoremas, nem elaborar dissertações técnicas ou moralistas sobre a vida...! Hoje... escrevo sobre a vida... sobre o que sinto... que devo escrever...! Sobre os actores de mais um livro... de mais um romance... de mais um poema... ou de apenas... mais um pensamento..!

Hoje... deixei cair nas minhas mãos frágeis... a saudade de um olhar... a saudade de um perfume... a saudade dos sentidos... despertos à tua volta...!

Hoje... deixei cair... dentro das palavras... o teu olhar e o teu cabelo... o teu sorriso... tudo...

Hoje...

Com a honestidade e o sonho a embalarem-me a alma em alegria... guardo-te dentro de mim... e fora de mim... dada a tua imensidão...! Tu não cabes dentro de ninguém... porque és imensa...! Tu não és de ninguém... és apenas de ti própria... do céu... e da natureza...!

Hoje... confrontei-me comigo mesmo... num dilema do instante...

O que seria de mim... sem ti? – Continuaria a ser o que sou... mas muito mais pobre... muito mais triste... muito mais frágil... muito mais ignorante... muito mais frio... e incoerente...! Sem ti... seria a ausência... o abstracionismo permanente...! Sem ti... seria um poeta... sem inspiração...! Seria... a noite sem estrelas... e o dia sem sol...!

Por isso... guardo-te dentro da alma...

Guardo-te na palma da mão... Guardo o nosso segredo...! Guardo na palma da mão, aquilo que quero e que não se pode dizer... aquilo que desejo e não posso nem devo desejar.... não deveria... não devo! Mas... como o espírito de um poeta é eminentemente sonhador... e as palavras com que brinca são ... na sua maioria teimosas... elas teimam em negar o que vai dentro do artista... ou do poeta... ou do pianista... ou do livre pensador...! Elas... as palavras... teimosas e emancipadas... negam... afirmando... no silêncio... os sentimentos que ardem internamente... fulgurantemente... não como uma paixão efémera... mas como algo mais profundo... mais pleno... duradouro... na sua totalidade... dentro do poeta...! Dentro da pessoa que ama...!

Ambos sabemos que há uma força natural que me impulsiona para lutar pelos sonhos... pelos ideais... pelas convicções e pelo amor... pelo que se sente...!

Afinal a poesia e a vida assemelham-se num grande e essencial ponto, a capacidade de sentir, a sensibilidade e a eloquência da sensação... entre muitas outras coisas. E a vida...

A vida é um caminho de estradas nem sempre bem sinalizadas, com alguns buracos no asfalto, alguns acidentes e por vezes com muito trânsito, muita confusão, e condutores muito perigosos. Mas também tem os seus encantos, a própria condução da vida, a condução de nós mesmos por trilhos secretos e ignotos ou ignorados... desconhecidos... como um veleiro solto no mais alto mar...!

A verdade é que a vida, mesmo quando corre mal, possibilita-nos momentos de contemplação, e são esses mesmos momentos que podem transformar o viver em algo melhor... que podem transmutar a vida diária numa dimensão diferente, numa alquimia da alma e dos elementos, levando-nos para uma dimensão de amizade e reconciliação com a própria vida e com os outros, as outras vidas, os outros sonhos, espaços e tempos.

Há razões que nos fazem estabelecer ilusões, criar expectativas em situações, momentos e pessoas, que nos fazem sonhar, pensar, equacionar, decidir, reformular, enfim, tudo isso é a própria vida, o seu próprio acto e a sua própria função, consequência e ao mesmo tempo motivos para a sua existência, realização e permamente busca de "algo mais" do que o vazio que nos fica aquando de uma concretização, de um momento efémero, de algo que nos deixou frustrados, magoados, tristes, ou a desilusão perante algo que não preencheu as expectativas.

No entanto, e eu acredito nisso, é importante sermos capazes de ser, como digo às vezes, humildes, sinceros, sonhadores e acima de tudo, simples. Simples nos sonhos, simples no olhar que deitamos sobre o mundo, sobre nós mesmos e sobre os outros. Quando digo simples, quero dizer, amantes! Quero dizer amados! Quero dizer amantes e amados! Apaixonados...! O verdadeiro poeta ou artista ou apenas sonhador é apaixonado, apaixonado pelo cão, pela gaivota, pela criança que brinca às escondidas no jardim, pelo jardineiro que consegue dar vida e alimento, cor e brilho às flores do seu jardim. Apaixonado pela mulher que passa na rua e se olha triste e magoada quando chora junto do espelho, ou apaixonado pelo vento, pela brisa que nos toca o rosto e nos faz sentir algo mais do que havíamos conhecido antes. Um sonhador ou poeta é apaixonado pela poesia, pela música, pelo dia e pela noite, pelo relâmpago, pelo estrondo do trovão, pela chuva, pelo sol, pelo calor, pelo frio, pela alegria, pela vida, enfim, pelo tudo e pelo nada que fazem do que somos, o que somos, que fazem de mim... o que sou.. e quem eu sou...! Que fazem de ti... o que és para mim... maré cheia dos meus ideais... a minha loucura e a minha lucidez... a catedral... da minha imaginação..!

Com tudo isto.... quero dizer que precisamos de ser pessoas... e deixar de evitar apaixonarmo-nos...! Precisamos de ser Humanos e benévolos, crentes, mas não dogmáticos, pois o dogma é o vicío do mundo, e o que aprisiona, não os corpos, mas as mentes, as almas, os espíritos. Apesar disso, existem sempre dogmas, sempre existirão, são próprios ao nosso pensar - propor o não-dogma, é já por si, um dogma que se auto-anula, mas que assume uma outra característica, a de conceito, ou construção preconceituosa da linha de pensamento, evitando a liberdade de poder ser dogmático...!

Digo apenas isto... que vale tanto quanto nada... aliás, hoje estou com dificuldade em transmitir o que me vai na alma e no pensamento... de o transcrever para as palavras, para a poesia ou para qualquer outra coisa... mas o que sinto e penso... continua dentro de mim... talvez esteja hoje assim, pois não chegou ainda o momento de se escrever o que se sente aqui... talvez amanhã... talvez daqui a cem anos...! Talvez nunca... porque não chegou ainda o momento de abrir o código da vida... decifrando-o totalmente...! Cada um de nós... vai decifrando um pouco... de si e do código da vida... e dando-o a conhecer ao outro... paulatinamente.

... Agora ...

... Apenas quero adormecer e despertar... olhar o sol a nascer, as nuvens a passar, os pássaros que cantam e esvoaçam pelo céu e que ao entardecer adormecem nos ninhos no topo das árvores, em paz e em descanso, olhando a lua que vai subindo no céu, agora escurecido pela noite.

... Agora... Apenas quero ler e aprender, ensinar talvez o pouco que sei, falar, viver, sentir, amar...

... amar-te... sim... amar-te eloquentemente... poeticamente... romanticamente... mesmo sem puder... mesmo sem poder pensar na possibilidade de um dia... o impossível ser possível... não quero supor isso... quero apenas aproveitar o que sinto... para viver-te... para sentir-te... e aprender... sobre as pessoas... sobre o mundo... sobre mim... sobre ti.

... Apenas quero viver sem causar problemas ou sofrimento aos outros... apesar de, por vezes... o facto de desistirmos de lutar pela nossa felicidade... por uma felicidade mais intensa... mais concretizada... para não magoarmos ninguém... é complicado entender... e mais complicado colocar em prática, mas é algo que quase sempre faz sentido... apesar... de talvez não fazer...!

Penso que ser feliz é ser feliz connosco e com os outros... é ser bom para os outros e para nós mesmos... é amar e viver... sem o preconceito de que não devemos pensar ou reflectir sobre as coisas...! Pelo contrário... devemos reflectir, aliás... podemos reflectir... devemos ser livres de sermos o que formos, o que somos, claro, dentro dos limites da nossa liberdade aparentemente infinita.... porque mesmo o infinito... mesmo a eternidade... são conceitos imensuráveis...! São algo que não conseguimos suportar... a eternidade... é impensável para a nossa mente em tudo temporizada, habituada aos minutos e aos meses, nunca à eternidade... que seria o não-tempo ou algo mais transcendente ao nosso pensamento...!

Talvez... eu... esteja a caminho da loucura.. talvez... mas mesmo na demência... há quem continue a sonhar... e eu continuo aqui... a sonhar...

A sonhar-me...

A sonhar-te...

E será a vida mais do que um sonho...? Mais do que um sonho com partes boas e partes más...? Com sucessivos despertares e adormeceres...? Será a vida mais do que isto...?

Digo isto... porque... sabes... quase sempre é através da magia dos sonhos que captamos a realidade... apesar de não sabermos que é durante a noite, que o nosso subconsciente efectua um resumo estruturado do dia que passou, elaborando as suas conclusões para daí tirar inferências e lições de vida... é assim... somos algo de profundamente misterioso.... e ao mesmo tempo... profundamente simples... a estranha mistura de simplicidade e complexidade... num único momento.

... Porque... eternamente... continuaremos a ser aprendizes de nós mesmos... no sonho de aprender e sonhar...

... NAS ASAS PLANANTES DE UM VERDADEIRO PENSAR...

Sejamos livres e fiéis aos nossos ideais...

Sejamos livres para tomar decisões e enfrentar as consequências dos nossos actos...

Sejamos livres para lutar por algo em que acreditamos... e tenhamos a coragem para ceder quando chegar a altura para cedermos...!

Sejamos livres e corajosos para tornar a nossa existência em algo de que amanhã nos orgulhamos...! Livres e corajosos para torná-la excepcional, extraordinária... e isso significa ser feliz...! Lutar pela felicidade... e não ter medo... de amar... não ter medo de ser-se feliz... de estender uma mão... de sorrir... de ajudar... de correr para o mistério... e de correr riscos... às vezes é necessário correr riscos...!

Mas tudo isto... sem que nos corrumpamos com a ambição desmedida, o orgulho cego e o ódio destrutivo, ou o egoísmo egocentrico. Isso é um grande problema do mundo - haver pessoas que se acham génios... e que acham que são a sapiência em pessoa... encarnada! É de facto um problema... pois normalmente essas pessoas não entendem, nem tentam entender os outros... passam-lhes por cima... como se se tratasse de uma beata de cigarro acesa, que é preciso apagar...

Já nem sei o que digo...

Já nem sei o que falo...

Somos um... mas somos muitos... muitos mais... em cada um de nós...!

E muito do que existe por aí... é-nos desconhecido... invisível... interdimensional...

Aproveitem a vida ao máximo... vivam cada instante como se fosse o último... ou então com a alegria e doçura de não existir fim....! Mas aproveitem... vivam... amem... sorriam... cometam as loucuras que tiverem que cometer... tenham a coragem de acreditar... e de lutar pelos vossos sonhos... por tudo...!

Nunca deixem de dar valor à natureza e aos animais que habitam o nosso planeta... as plantas.. o ar... o vento... o fogo... a chuva... tudo... o que faz parte da natureza...!

Nunca temam ajudar quem quer que seja.... nunca temam ajudar-se a vocês mesmos...!

Tudo isto porque a vida é preciosa... e o tempo que dispomos para a viver... para mudar... para queres... para tudo... poderá ser sempre insuficiente... porque não sabemos quanto tempo dura o nosso tempo...!

Quando percebermos o quanto deixámos para trás, o que ficou por fazer... e por dizer... e tudo aquilo que nunca poderemos voltar a viver ou viver pela primeira vez... quando... se um dia... descobrirmos que temos a nossa vida encurtada... e que daqui para a frente... o percurso a percorrer não poderá ser muito longo... pois ficaríamos a meio dele... sem nunca o podermos findar...!

Quando entendermos isso quer queiramos... quer não... passaremos a medir o mundo, cada coisa e cada tempo de uma forma muito mais intensa... muito própria... e a própria vida passa a vibrar e a ritmar como um relógio implicante que teima em aproximar os ponteiros do momento de acordar do sonho ou de abandonar o corpo...!

Nunca abandonem um ideal... nunca deixem de ter esperança... se isso acontecer... o mais belo e sincero que existe dentro de nós... acabará por se extinguir como uma chama em que não existe mais oxigénio para queimar...!

Assim é a vida... quando não há força nem garra... nem encantamento... ou contemplação... nem objectivos... nem um rumo a seguir ou uma força que nos guie... então aí estaremos a caminhar para a morte... façamos o que fizermos... não há remédio.. .quando não há alma... quando não há ânimo como diriam os filósofos... não há vida nem morte... apenas um estado de sonambulismo perpétuo... à espera do fim...!

Até sempre

A vida pode ser perfeita... independentemente de todos os obstáculos... a prova... está em ti...!

Pedro Campos - é bom escrever... sem reflectir muito .. penso que se chama catárse... já não me recordo bem... – mas acabei de escrever uma carta ao silêncio...!


Recordações - Poema: No outro dia

No outro dia - Poema escrito aos 13 anos.

No outro dia passei na rua
Era dia de ser dia do dia que era..!

Nesse dia, igual a qualquer outro dia,
Vi como sempre, de longe, no passeio...
Um homem a mendigar...!
O seu nome não sabia,
Da família não ouvi falar,
Estava abandonado na vida,
Vivia sozinho, a beber e a fumar...!
Mas... cheguei-me mais perto,
Perguntei-lhe: - Posso me sentar?
Ele, com aquele olhar esperançoso, de que alguém o ajudasse,
Disse com a cabeça baixa: - Senta-te miúdo!

Sem querer, começámos a falar,
Eu contei-lhe quem era, o que fazia,
E ele...
Ele... com uma voz rouca, que a cada som... ecoava naquela tarde,
Contou-me a sua história...
O que já havia sido no passado...

Ele já tinha sido...
Alguém com uma vida perfeitamente banal,
Mas, alguém... a quem o dinheiro havia acabado a vida... a alma....
E hoje...
Sobrevive a vender castanhas em rolos de jornal...!

Com ele...
Fiquei a aprender mais da vida...
Com ele, os meus olhos brilhavam de aventura,
Sim... de aventuras que ele contou... que ele disse que viveu...
Os problemas por que passou, e que ultrapassou...
Coisas que fez por amor... por amar alguém...
Coisas que fizeram dele... um alvo da censura... e da sociedade egoísta...
Coisas.... que... voltaria a viver...
Mas... o passado já passou...!

De repente...
Enquanto falávamos...
Uma buzina, um gemido alucinante, um ruído, um carro... que travou...
Tudo desapareceu, sem deixar rasto...
Tudo passou, sem sobrar uma recordação... uma lembrança... mais forte que este poema...
Daquele dia...
Em que conheci alguém tão diferente,
E ao mesmo tempo... tão parecido...!!

Ppppppiiiiiiiii....... PPPPPpppppiiiiii.....!

Era o despertador a tocar...
Tudo tinha sido um sonho...
Tudo tinha sido imaginação
Uma história que terminou com um relógio a gritar...
Talvez uma premonição...
Ou apenas... simplesmente um velhote simpático que me falou,
E me mostrou o seu coração de cristal...
Mas... afinal...
Não foi um dia como outro qualquer...
Foi sim...
Uma noite diferente de qualquer outra noite....!

Pedro Campos - Poema escrito aos 13 anos.

Nos teus olhos

Nos teus olhos

Esta manhã...

Encontrei-me com os teus olhos

Encontrei-me com a tua alma

Encontrei-me com alguma coisa tua...

Alguma coisa simples... algo de singelo e unívoco.

... Não sei se foi realmente um encontro, ou unicamente uma demorada lembrança... olvidada ou imemorada...

... abstracta e longínqua... que me surgiu na mente... numa brevidade de brisa..!

Que me surgiu na mente... assim... na precipitação de uma nuvem do passado...

Num ciclo de dor e alegria...

Onde uma simbiose meticulada e adocicada de framboesa

Se mostrou e bailou voluptuosamente na profundidade da tua vida...

No expoente do teu sentir...

Esta manhã

Reencontrei-me contigo

Num corredor esquecido

Numa montanha eloquente sem mapa para lá chegar

Onde o percurso não é propriamente o caminho, mas antes o motivo que nos leva a procurar chegar!

A chegar onde? - perguntas tu...

Onde poderia eu chegar? - pergunto eu...

Talvez chegar ao paraíso ou ao inferno...

Talvez atingir o limite ignoto do nosso horizonte

Chegar... talvez... apenas à loucura da vida

... Amando assim, com toda a alma...

... Assim... com tudo isto...

... Assim... em contemplação...!

Na verdade...

Já não escrevo poesias dolorosas

Ou pelo menos julgava que as não escrevia

Mas, pelo que a prova de agora me ensina

Escrevo com dor e com alegria

E não deveria sentir contrangimento, pois ambas fazem parte da vida.

Não há caminho eficaz sem algumas arranhadelas,

Nem sorriso contagiante sem algumas coisas sem sentido,

Não existimos nós, sem a loucura de sonhar e sorrir, loucamente, livremente como pássaros no raiar do dia...

Não somos nós, se não pensarmos e reflectirmos sobre tudo e sobre a perspectiva dolorosa de entender ou tentar entender a nadificação do vazio, ou o preenchimento pleno do excesso...!

Sabes...

Já há tempo que não escrevia...

Já há tempo que as palavras saíam ocas, com a técnica e a mestria de muitos anos de poesia, como saem agora mesmo, mas sem a magia, que nós, poetas do sonho, da vida e da alma, entendemos como o nosso milagre de criação...

a magia como monumento, num momento pleno de inspiração...!

Sabes...

Já há tempo... que não compunha...

Já há tempo que quando tocava as telcas do piano...

Não fazia música... apenas sons ao acaso... na esperança de que o vento ou algo mais, fosse capaz de uní-las e torná-las encanto...!

Já há tempo... que a vida... não a do Pedro que conhecemos, mas a do poeta desconhecio, se havia suspendido no silêncio ruidoso do instante mais eterno... mais longo... mais enlouquecido...

Já há tempo... que a alma... dolorosamente maltratada pela morte de uma amigo, se refugiou no seu mais antigo esconderijo... a meditação... a loucura perpétua de se amar tudo e todos... de se Ser, de me Ser, quem sou... e o que não sou...

Já há tempo... que procurava uns olhos... assim como os teus olhos...

Não sei... que tipo de olhos realmente procurava...

Nem sei mesmo se procurava alguns olhos...

Mas, a verdade é que os encontrei... mesmo que por instantes... encontrei-os... eles foram em parte meus... não os possuí... mas foram meus, porque me entreguei a eles... mas apenas aos olhos...

Esses... olhos...

Encontro-os todas as manhãs...

Todos os dias...

A olhar para mim...

Sim...

Nos teus olhos...

Libertei uma ausência funda de mim mesmo

E entendi, muita da verdade da vida e do tempo...

Muita da mística verdade que nos une, mas nos afasta...

Mas...

Hoje, nos teus olhos...

Vi tristeza e fragilidade...

Talvez tenha visto apenas uma ilusão...

Ou o reflexo dos meus olhos, nos teus olhos...!

O reflexo da minha verdade.

Porém... como quer que tenha sido...

Tenho a dizer-te...

... que tens uns olhos lindos...

... que todos os dias olho... e entendo... e sinto...

.... e que todos os dias me vês...

como sombra... do meu sorriso...

... Até sempre... digo agora aos teus olhos...

Até sempre... algures ao sabor das ondas...

No meio do mar...

Onde as conchas, vieiras do eterno...

Dançam persistentemente ao perfume musical de um incenso sereno, inspirador e terno...

E nós...

Continuaremos a olhar

... nos meus...

... nos... teus olhos...

sem que nada tenha mudado...

na permanência imanente ao nosso espírito... ao nosso corpo...

com o universo...

na sua sintonia cósmica, divina, ou não...

mas... essencialmente... quer tenhamos consciência ou não....

Juntos naquilo que consideramos ser... o amor...

que, como diria o poeta...

é o ânimo e o élan vital que nos sustenta...

a ambrósia que nutre os Deuses...

... os Deuses que vivem...

... na íris dos teus olhos...!

Pedro Campos - algures no tempo...

Se me perder

Se me perder...


Olha para mim
Olhem bem para mim
Aqui onde estou, já ninguém me vê...
Já ninguém sabe quem sou...
Já ninguém me ouve...
Porque já ninguém me escuta...


Já ninguém me sente o pulso... ou o fôlego... ou o vento da alma... ou o que de mim sobrou...
Porque o que de mim sobrou...
Foi aquilo que sobra do mundo mortal
Aquilo que sobra do confronto entre a vida e a morte
Entre a dor e o prazer..


O que de mim sobrou...
Não foi o corpo...
Nem a roupa...
Nem as artes...


O que de mim sobrou...
Foi o sonho...
Foi a essência...
Foste tu...
Foi ele
Foi ela...
Foram eles...
Foram os instantes de perfeição...
Foi tudo o que de tudo foi bom... singular... único... relevante
No fundo... foi tudo... bom...
Agora estou bem...
Antes já estava bem...
Antes de me perder...


Olha para mim
Olhem bem para mim
Aqui onde cheguei
É um novo mundo...
Uma dimensão invisível...
O sobreestrato da essência rara da natureza...
Repleto de paz... de vazio e silêncio.... mas onde me é permitido observar o nosso recanto... o mundo lá em baixo... mas aqui mesmo... tão perto quanto o estalar de um dedo...
Tão longe... quanto a distância toda do universo...


Olho-o...
Olho-te...
Olho-vos...
E peço-vos...
Deixo-vos hoje este pedido...
Singular nas vertentes a norte do poente...


Não chorem...
Não corram perdidos como uma fúria à solta
Como se o mundo desabasse em vós...
Como uma fúria interna, agrilhoada... presa...
À espera de ser expressa, expulsa, esvaziada da sua força...
À espera de paz... e ternura...!
À espera do ressurgimento...
Ou do regresso... atrás no tempo...!


Vá lá... amigos...
Não chorem...
Sei que estou perdido onde os homens e mulheres e vidas se perdem
Ali no limiar da ausência... onde se permutam instantes de vida, na troca pela felicidade... na troca pela sobrevivência...


Sei...
Que essa chuva que cai... ou esse sol que vos aquece... nunca mais eu... os poderei sentir...
E que o frio e o calor...
São agora apenas resíduos de memórias de uma vida passada.... Mas que continua aqui...
Que persiste aqui...

As nuvens deixadas no céu da terra...
Os pássaros esvoaçantes num panorama de filme...
Fitando os homens, procurando-me...
Os animais que me amam e que eu amo...
As flores... as árvores... a água... a terra... a madeira.... as nuvens... o silêncio... o ruído...
As árvores e o cheiro de flores...
O dia... e a noite...
A madrugada e a manhã...
Tudo... e nada...
As cores do teu arco-íris... na simbiose com a chuva que cai...
E a música... e o vento... e tu... meu irmão...
Inventa a tua própria felicidade...
Cria... num acto de genuína verdade... a tua paz interior...!


Sei que agora...
Cada momento será diferente...
É já diferente...
Agora que me perdi...
Assim...

Mas...

Os dias continuarão a suceder às noites...
E aí... então todos vós...
Poderão sentir quando adormeci...
A chuva continuará o seu ciclo no percurso para a terra e novamente para o céu...
Nela poderão entender a minha dor...
O vento continuará a soprar... e a soprar... sucessivamente...
Nele poderão ouvir-me falar... cantar... sorrir e sonhar...
O sol continuará a brilhar e as estrelas e a lua a iluminarem o céu nocturno...
Tudo permanecerá enfim... igual... no seu rumo próprio...
Quando... me perder...
Se me perder...!


Por tudo isso... amigo... amiga..
Não chorem por mim
Eu fiz aquilo que poucos homens puderam fazer
Fui filho
Fui poeta
Fui sonhador
Fui músico
Fui homem
Fui também mulher
Fui amante
Fui amado
Fui criança
Fui adulto
Fui velho cansado
E sempre...
Sempre...
Procurei o esplendor do expoente da liberdade...
Porque cada vez...
A cada dia que cessava...
Fui conseguindo tornar-me mais livre...
Mais eu...
Mais eterno...


Se... de facto...
Eu me tiver perdido...
Não vale a pena chorar
Porque apesar de perdido...
Permaneço aqui...
Invisível aos olhos
Inaudível aos ouvidos
Insensível à pele
Inalcançável pelo sabor ou pelo odor... ou pelo tacto...
Mas... profundamente alcançável pela memória...
E pela felicidade... pela alegria...
Porque esse sou eu...
Esse fui eu.. vivo...
O amante da vida... que amou o mundo inteiro...
Que tantas vezes sofreu com a angústia de ver o seu mundo em guerra, em dor, em humilhação constante... pela injustiça do Homem para com a natureza.... e para consigo próprio....
O lutador... pelos valores de um ideal...
Aquele... que sem asas... nem ouro... nem fama... nem prodígio...
Conseguiu abrir os sonhos e lançar-se no céu a voar...
Como uma gaivota de maré...


Se, de facto, eu me tiver perdido
Ou talvez... por outras palavras... tiver partido...
Não chorem a minha ausência....
Porque para sempre vos acompanharei a todos...
Marcando encontro regular
No mundo dos sonhos...


Aí...
Durante a noite...
Eu surgirei nos vossos sonhos...
E estarei convosco...
Estarei comigo...
Em longas discussões sobre os teoremas da vida...
E da morte...

Aí... mostrar-vos-ei...
Quem fui..
Quem sou...
Nas longas noites...
Dessas que passam... num relâmpago de existência...!

Aos que me amaram e amam...
Continuem a sonhar sempre... sempre...
Porque a eternidade é muito mais perfeita do que tudo o que imaginámos...

Aos que nunca conheci... ou àqueles que alguma vez...
Por algum motivo... me odiaram ou repudiaram...
A eles... agradeço...

Agradeço... porque foi também com eles que cresci... enquanto pessoa... e filósofo do sonho... filósofo da vida...
Na pseudo corrente... de contrariar a filosofia....!

Para esses...
Desejo que sejam capazes de entender o instante cadente e de amar a vida... intensamente...
Que sejam capazes de se apaixonarem...
De lutarem pela felicidade... sem aniquilarem a felicidade alheia...!
Sejam felizes... para sempre..!
Na verdadeira e genuína acepção de felicidade...
Amando sem temer... mesmo na impossibilidade do amor...
Amem apenas... e lutem por esse amor...
A melhor forma de lutar...
É lutar não lutando... só assim... o amor é genuíno...
Perante o amor impossível...!
Acreditando sempre...
Sempre...


Porque... se deixarem de acrediar...
Acabarão por se perder... dentro da sombra da ausência... que precipita dos rios de dor
Que inundam a alma humana...
Como dragões de fogo...
Com as suas línguas ardentes...
Queimando tudo...


Se deixarem de acreditar...
Perdem-se...

É tão simples.. quanto isso...
Todas as leis universais...
Condensadas... no acto de acreditar...!

Até sempre...
E obrigado
Pela poesia
Pela música
Pelos livros
E por toda a magia que a terra me permitiu...
E que tu... musa intemporal...
Me ofertou... com tamanha alegria... e encanto...
Na contemplação da tua delicadeza... elixírica...!
De ti...! Para sempre...

Até sempre...

Se me perder...

Pedro Campos – Se me perder... Algures no tempo

Fuga ao espectro de ontem

Fuga ao espectro de ontem...

Já vai alta a noite
E o tempo vai sendo contado por nós
Enquanto fazemos mais este caminho distante
Nesta madrugada fria
Rumo ao Norte...!

Em cima das costas...
Trazemos os sonhos e os pesadelos...
Os receios do amanhã...
E as esperanças de sempre...
Juntos num peso...
Suportado pela vontade unida de alcançar um novo lugar..!

Dentro do saco...
Trazemos unidas... as nossas armas...
Os nossos escudos...
O somatório final dos motivos para lutarmos...
E nunca desistirmos de lutar...
Não nos resignarmos...
À fúria incessante do inverno...
Do inferno...!
Do passado que nos devora aqui...
Corroídos na lava ardente que estremece tudo...

À nossa frente
Encontramos o gelo na estrada
As estalactites geladas e cortantes...
Os perigos de uma travessia imensa...

A solidão que nos falta encontrar
Caminha a par e par com a saudade que restou
Do que deixámos para trás
Nesta fuga ao passado...!
Nesta fuga ao espectro de ontem...!

Ontem...
Sem alternativa
Tivemos de partir
Fugir
Das almas em guerra
Antes que o fogo do terror
Nos apedrejasse o sorriso
E nos refriasse o coração..
Deixando-o petrificado...
Frio e insensível...

Por isso...
Abandonámos a nossa casa
As nossas casas abandonadas
Ao rumor do vazio
Que ecoa no mármore frio
Da noite de uma aldeia na estrada meio deserta
Uma lua meio aberta
Uma boca meio molhada
Entre as mãos... bem fechadas...

Neste caminho indistinto...
Seguimos nós os dois
De braço dado
À espera da multidão que virá...
Ao nosso encontro...
Ao amanhecer...!

Estamos aqui...
À espera do amanhecer...!

À espera do amanhecer...

Pedro Campos - algures no tempo e espaço

História na noite

Título: História na noite

Letra:Pedro Campos

1

Andamos os dois

Por aqui sem saber

Qual o rumo das palavras

Que no silêncio continuamos a dizer


2

De mãos desertas, frias e unidas

Numa dança, que não sabemos como pode acabar

Tentamos agarrar a noite,

Agarrar o sonho e a saudade

Agarrar o que não podemos agarrar...


Refrão

E perdidos numa história impossível

Mas em que a noite nos faz/fez acreditar

Acabamos por adormecer sentados nas pedras loucas do silêncio

Na ânsia de sermos quem não podemos ser

Sentindo o que não podemos sentir

No desejo de que a noite não mais termine

Para que amanhã possamos continuar a sonhar...

Apenas a sonhar... a história que esta noite foi nossa.

3

Os olhos unidos, perdidos no ar

As mãos que quase se dão em cima do mar

E o tempo... e o espaço... e um guião de um filme

No diário esquecido dos nossos instantes

Este abraço... esta vontade...

Estamos prestes a voar... e a ser livres...


4

As rotas trocadas...

E as lágrimas dissecadas

O mundo aberto em formas de pensar

Somos filósofos na noite...

Somos pessoas vivas...

Com o nome inscrito num diário/monumento por inventar...

Refrão (repetir)

Pedro Campos

Númen

Estou aqui
Como quase sempre...
Estou aqui...
Desperto no silêncio da noite...
No mistério da noite...!
Escrevendo ao ritmo... da noite...
Ao ritmo do sonho... desta noite...

Estou aqui... simplesmente...!
Como outrora... já estive...!
Acordado... à espera da inspiração...
Observando de que lado sopra o vento...
Tentando adivinhar qual a direcção do teu sorriso...
Inventando o teu olhar... reflectindo no meu...
Enquanto a noite vai-se tornando madrugada...
E tu vais-te tornando... o meu sonho...
Acordado...

Estou sentado aqui...!
Ao meu lado... está o meu companheiro candeeiro...
Estático... e imóvel na sua permanência imutável...
Um candeeiro de luz amarela... subsiste aceso... horas e horas a fio...
Um companheiro permanente nas noites de escrita...
Embebendo o quarto pequeno nessa luminosidade de época...
Criando um ambiente propício à poesia...
Ao amor...
Ao sonho...
À magia...!
Ao encantamento...
A nós...

Às vezes...
Quando preciso de sentir-me... sentido...
Quando preciso de sentir-te... aqui...
Quando sinto tudo para ser poema...
Acendo as velas perfumadas no meu quarto...
Essas que me transformam em quimera... e devaneio...
Essas... que na sua simplicidade de chama ardente...
Libertam as amarras pesadas que por vezes...
Prendem as nossas palavras...
Aquilo que queremos dizer e não queremos...
Aquilo que desejamos de toda a alma... falar... e não falamos...
Aquilo... que expressamos... e não queríamos expressar...
Mas dizemos... para não dizer o contrário...
Que... é na verdade... o que por vezes sentimos vontade de dizer...
E não podemos...
E no entanto... tu... númen...
Perdida na noite...
Ensinas-me os passos certos da magia... que decifra a eternidade dentro do navio navegante da poesia...
Como Deusa eterna... cultivas as notas de músicas do infinito...
Essas que ampliam o nosso sentido... o nosso segredo... a nossa visão abrangente e esclarecedora do universo inteiro...
O estar vivo...
O estar acordado...
O estar feliz...!
Contemplando... a beleza das coisas...!

No silêncio...
Ergo o rosto... e a face para o tecto...
Um tecto branco e vazio...
Indispensável para o poeta criar a sua ilusão...
Depois...
Olho a noite lá fora...
Através de uma janela envidraçada... nublada...
Vejo a noite quieta...
A noite... dormindo...
E viajo...
Viajo no meio da escuridão... empedrada da rua...
De mãos dadas com os pensamentos confusos... e os mais lúcidos...
Com a trocha nas costas...
Parto para o norte...
Em busca de ti...
Em busca de mim...!
Em busca de nós dois...!

Lá fora...
Está tudo a dormir lá fora...
Os pássaros dormem...
A Lua dorme...
As flores dormem...
As estrelas dormem...
Enquanto o vento... os embala a todos... com encanto...
Acalentando tudo... no sossego pacífico de adormecer...!

Mas eu...
Eu... continuo aqui...
Acordado...
Olhando para tudo e para nada...
Pensando em ti...
Escrevendo sobre ti...
E talvez sobre toda esta gente...
Gente de papel...
Com asas de papel...
Com gestos de papel...
E sonhos de lavanda...
Que se agitam na aguarela intérmina da eloquência do meu sentimento...

E assim...
Pela noite dentro...
Tu... ignota... serás o númen da poesia...
Absorta... ínfima... bela... explendorosa... plácida e indefinível... harmoniosa...
Quente... forte... e... em rigor... pura maresia... refrescante da eternidade...!
Tu...
Que não sabes que o que escrevo é para ti
E que mesmo sem saberes...
Percebes.... que nem eu próprio sabia que escrevia para ti...
Porque não estás aqui..!
Nem em lugar nenhum...
Porque é para ti que escrevo...
Esse tu... longínquo e tão perto...
O lúmen que me enche as mãos
Com o perfume da imensidão...
Levando-me a dizer-te...
A ela... a ignota...
O amor que me invade...
Celeste e clemente...
Fraterno e prudente...
Na poesia que nasce
Na noite luminosa
De lúmen... assim...
Inspiradora de mim!

Lúmen... algures dá-me a chave da poesia...!
Lúmen... és tu... e não és tu...
E eu não sei quem é...!

Fecho os olhos...
Já escrevi...
Vou partir...
Parti...

Algures no tempo