
Porque é que tentas sempre entender o que escreves, o que fazes, o que sentes?
Para quê teorizar o sonho e a imaginação,
Se tudo o que somos é imediato e real
Tudo o mais é desvanecer a glória do essencial..
Está ali uma árvore de folhas verdes e perfumadas
E é a árvore... só isso... mais nada...
Que me faz sentir feliz...
Para quê atirar areia ao ar...
Para tapar os olhos e mudar
A forma como vemos a forma das coisas
Se são os olhos que vêem e nada mais...
É o próprio olhar que nos diz o que olhar...
Não é o pensar sobre o pensamento de ser árvore
Ou remota hipótese de tudo o que resulta da interpretação confusa que os estudiosos sempre fizeram
Para quê pensar, se basta sentir?
Para quê tentar confundir uma visão real e única
Se só isso é o máximo a que podemos alcançar?
Para quê imaginar o que virá a seguir?
Para quê criar ideias do que farás amanhã?
Para quê interrogar-me assim aqui?
Se nem interrogando sobre o que faço
Me abre as portas de um mundo que ao pensar já desfaço...
E num instante deixo de ser feliz...
Porque abandonei a verdade
Só a verdade... que os sentidos captam...
No instante genuíno de seres tu
De seres aqui... imediatamente o que és
E não o que serias daqui a um milésimo de segundo
Do pensado o não pensado...
Do futuro... o livro escancarado
Dedos morrendo... e cabelos caindo...
Sangrando da substância de si...
Desvanecida e dissipada...
Separada do seu momento único...
Aquele instante... irrepetível...
De um beijo
Os lábios humedecidos
A suavidade fresca e a pele molhada...
De uma euforia sem tamanho...!
O que seria de cada um de nós
Sem a brevidade de um momento?
Fechem a cadeado o pensamento!
Que pensar demasiado causa o envelhecimento
E a pouco e pouco um divórcio eterno
Entre o ser e o sentir...
Entre o dentro e o fora...!
Não pensem...!
Apenas sintam...!
A ave colorida a voar no céu azul...
E a planície verdejante e luminosa...
Que bom que é acordar assim...
Viver assim...
No limiar de ousar olhar apenas...
Apenas estar...
Não teorizar...
Respirar fundo...
Sem complicar...!